MINHA VIDA
Meu nome é
Grace Caroline, nasci em 1971,em Curitibanos , no planalto serrano do estado de
Santa Catarina, cidade pequena e obviamente muito provinciana.
Em 1976 eu
já tinha dois irmãozinhos, uma menina e um menino, atualmente somos uma família
com muitos irmãos, é um número bem grande de histórias de vida pra contar.
Mas foi na
minha infância que se percebiam os comportamentos mais estranhos. Eu era uma
criança que não se comportava da maneira esperada. Adorava ficar sozinha.
Não gostava
de brincar com meus irmãos por mais divertidos que eles fossem. Adorava ficar
na casa da minha avó materna, pois era enorme e lá eu sempre achava um jeito de
me isolar.
Era
considerada a criança mais preguiçosa do planeta. Ah! também era a criança mais
antipática da família. A mais "birrenta" e "chiliquenta". Tinha
um comportamento considerado adulto.
Odiava
qualquer confraternização familiar, até minhas festas de aniversário era motivo
de muito sofrimento. E para piorar tudo eu verbalizava tudo o que pensava quase
sempre constrangendo e ofendendo as pessoas.
Considerada
uma criança muito “desenvolvida” para a idade, pelo discurso muito precoce.
Lembro-me da minha mãe contando que a professora da primeira série a chamou
para contar que eu colocava as mãos nos ouvidos por causa da conversa dos
colegas, e que eu não me relacionava então uma coleguinha se aproximou e foi à
única amiga que eu tive durante a primeira infância.
Eu também
tinha o sono alterado, sofria para dormir. Sempre dizia para minha mãe que não
era deste mundo, que não queria ser assim, que ouvia os sons como se eles
fossem mais altos para mim, uma vez eu cheguei a comentar que quando a água do
chuveiro caía na minha cabeça o barulho parecia uma multidão de pessoas falando
ao mesmo tempo.
Na pré-
adolescência me enchi de amigos, contava segredos pra todo mundo, dava minha
opinião sobre tudo, eu achava que todas as pessoas eram minhas amigas, não via
defeito nem maldade em ninguém, um comportamento muito infantil, mas eu
entendia que isso era “ser boa”, que acreditar nas pessoas era uma virtude.
Eu me
lembro de sempre ser obcecada por um dos amigos, eu ficava fascinada e não
desgrudava da pessoa até ser rejeitada explicitamente, e sofria muito com isso.
O tempo foi passando e chegou a adolescência, aí aquele "amadurecimento
precoce" foi embora e o processo se inverteu, fiquei
"infantilizada" quando deveria estar amadurecendo.
A
adolescência foi o período onde eu passei a não saber quem eu era, a ser
excluída dos grupos onde tentava fazer parte, o meu comportamento sexual e
afetivo, era quase sempre inadequado para os padrões.
Por volta
dos meus 14 anos eu fui vítima de todo tipo de abuso, enfim o caos foi uma
realidade por muito tempo. Vieram os relacionamentos amorosos, todos muito
sofridos. Aos 18 anos passei no vestibular, aos 21 me formei.
Aos 24 anos
tive meu primeiro filho, solteira, consegui ficar com ele por três anos e meio,
mas a dificuldade era enorme em todos os sentidos, sofria de depressão,
ansiedade, processo confundido com bipolaridade , eu só pensava em morrer,
então não consegui e fui embora da cidade deixando meu precioso filho com minha
família.
Não era a
primeira vez que eu ia embora em busca de ajuda. Nesta última partida quando
deixei meu filho, demorei 6 anos para retornar e foram os seis anos mais
complicados, mas foi o começo do fim. Meu filho sempre foi o meu rumo certo, a
minha certeza, o meu destino, o meu motivo para continuar tentando sobreviver
neste planeta que até hoje não entendo.
Nessas
andanças todas reencontrei origens e refiz contato com meu próprio espírito,
que andava recluso e destruído por tanto sofrimento.
Voltei aos
34, casada e grávida da minha filha caçula, que é o anjo enviado para me tirar
desta ignorância toda, desta falta de chão que sempre foi a minha vida!
Sobre como
e quando foi que recebi o diagnóstico de autismo da minha filha e o que mudou
para mim, o que eu posso dizer é: Foi no ano
de 2009, com 37 anos.
Minha mãe
não achava necessário que eu levasse minha filha ao médico, dizia que o
problema da minha filha era ser igual a mim e eu mesma achava que a
"sina" da minha filha era padecer como eu.
Quando veio
o diagnóstico da minha filha de "autismo" e a única diferença dela
para mim é que eu sou verbal, então veio o esclarecimento, eu também estou no
espectro autista.
Como eu descobri que estou no espectro?
Pesquisando sobre o
assunto para ajudar minha filha e respondendo “SIM” a estas perguntas de um
teste psicológico desenvolvido para avaliar adultos:
1-Muitas
vezes você se sente fora de sincronia com os outros?
2-O seu
senso de humor é diferente da maioria ou é considerado estranho?
3-Você se esquece que você está em uma situação social quando alguma coisa lhe chama a
atenção?
4-Você tem
dificuldades em organizar o seu trabalho e/ou sua vida?
5-Você
prefere usar a mesma roupa e/ou comer a mesma comida todos os dias?
6-Você se
incomoda quando as pessoas visitam você sem convite?
7-Já fez
alguma coisa apenas para descobrir depois que esta coisa não era desejada?
8-Você
prefere fazer as coisas sozinho, mesmo que você disponha da ajuda ou
experiência de outros?
9-Você é
tão honesto e sincero que você assume todo mundo também é?
10-Você não
tem uma boa distinção daquilo que é a coisa certa a fazer socialmente?
11-Você não
aceita graciosamente críticas, correções e ordens?
12-Em
conversas, você tem problemas com coisas como sincronia e da reciprocidade?
13-Você
tende a ser impaciente e/ou impulsivo?
14-Você
tende a interpretar as coisas literalmente e/ou responder a perguntas
retóricas?
15-Você tem
uma visão alternativa do que é atraente no sexo oposto?
16-Se
houver uma interrupção, você não pode rapidamente voltar ao que estava fazendo
antes?
17-Você tem
problemas com o início e/ou a finalização de projetos?
18-Já lhe
disseram que você tem uma postura ou modo de andar estranho?
19-Você
acha difícil captar as intenções das pessoas?
20-É mais
difícil para você manter amigos do que para outras pessoas?
21-Você já
teve a sensação de jogar um jogo, fingindo ser como as pessoas à sua volta?
22-Você já
foi intimidado, abusaram ou já tiraram proveito de você?
23-Você
acha difícil descobrir como se comportar em diferentes situações?
24-Você
espera que as outras pessoas conheçam seus pensamentos, experiências e
opiniões, sem que você os tenha dito a elas?
25-Você tem
tendência a dizer coisas que são consideradas socialmente inadequadas?
26-Você não
é bom retornando cortesias sociais e gestos?
27-Você tem
interesses imaturos?
28-Muitas
vezes as pessoas entendem mal o que você queria dizer?
29-Você
fica muito cansado após socializar, e depois necessita se regenerar ficando
sozinho?
30-Você
geralmente desconhece os limites e regras sociais a menos que lhe sejam
claramente enunciados?
31-Você
tende se a procrastinar?
32-Antes de
fazer alguma coisa ou ir em algum lugar, você precisa ter em mente um
planejamento ou cronograma (do que deve ser feito) de forma a que você possa se
preparar mentalmente primeiro?
33-Você não
gosta ou tem dificuldade em esportes de grupo (por exemplo, futebol) ou outras
atividades de grupo?
34-Você tem
algumas rotinas ou manias que você precisa seguir?
35-Você tem
tendência a expressar seus sentimentos de formas que podem deixar os outros
perplexos?
36-Você
tende a 'travar' ou ter uma crise nervosa quando estressado ou sobrecarregado?
O que mudou
para mim?
Foi que eu
saí de uma condição de ignorância profunda de "mim mesma", foi um
alívio, um sentimento de ter recebido uma "carta de alforria", foi
ter a oportunidade de ficar livre de qualquer jugo ou domínio, oportunidade de
ganhar minha independência.
Com este
processo chegou o diagnóstico de Síndrome de Asperger para meu filho, outra
libertação.
O
conhecimento da minha condição de autista, não é uma oportunidade de justificar
meus "ERROS", mas sim a oportunidade de tentar ser aceita do jeito
que eu sou, mas não está sendo fácil, porque eu me sinto constrangida, acuada,
e ainda não sei lidar comigo mesma, pois até hoje eu fui uma pessoa submissa,
dependente, escrava da opinião alheia por não me conhecer, não entender minhas
próprias atitudes. Não tenho independência financeira.
Não sei se
vou conseguir ser respeitada algum dia
como eu gostaria de ser, mas pelo menos para mim, meu marido e meus filhos foi
um alívio!!
E aos 38
anos, criei este blog: http://descobrirseautista.blogspot.com/ para tentar organizar minha cabeça, sair
desta confusão mental intensa que me faz ficar prostrada diante da vida sempre
pedindo para que tudo acabe logo!
Blog da
minha filha: http://universodameninaautista.blogspot.com.br/
Grace
Caroline Granemann Rosa. (Atualmente com 42 anos)